29 janeiro, 2010

A Corrosão


Numa ilha-domínio fustigada pelos Kamis dos ventos e das águas, três silhuetas femininas fitam obsessivamente o destroço da ponte de madeira que as mantém ténuemente ligadas a terra firme. Frágeis marionetas envoltas em seda e ódio, esfinges petrificadas ancoradas na rocha como Tako, o polvo e símbolo do clã, abraça o coral com os seus poderosos tentáculos.




“Que a peste assole este exílio detestável onde hipotecamos a nossa juventude sem esperanças de evasão”




“Refinadas manas, serão as vossas pérfidas linguas menos afiadas que o fio da minha lâmina?”


TAKO © Yann & Michetz


Do cíume e da inveja como armas de destruição maciça.

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24 janeiro, 2010

As Sumptuosas Sombras do Pássaro da Morte


Mesmo quando em nossas casas todo o cinema fôr um Avatar, o Nosferatu do Murnau será evocado e para sempre assegurará, em quaisquer e incertos tempos pós-futuros, o estatuto de fulgurante e bela obra-prima.

Ontem, exaltado e inflamado pela música contaminada de Wolfgang Mitterer, dardejou efeitos de expressionismo electrónico, onde o imponente orgão consagrou e realçou o seu sub-título original : eine Symphonie des Grauens (uma Sinfonia do Terror).


No Clubbing, na Casa da Música.


18 janeiro, 2010

A Ordem das Coisas ( I ) - Lei de Ohm


Merda!... Agora que corria tudo de feição é que o carro me resvala para o mato. Há bocado foi o boi, ou a vaca ou lá o que era... Aah! Mas desta vez, sinto cá no fundo que vou conseguir. Aquele cretino do Greyhill bem pode ir lá adiante, mas eu sei que ele está com um problema na caixa, que vai ter que moderar o ritmo. É só uma questão de tempo. Depois, passo-o e com esta etapa no papo, a ultima vai ser canja. E amanhã à noite, a abrir os noticiários será “ LANDSMAN VENCE A 6ª EDIÇÃO DO RALLY DA INDOCHINA E CONQUISTA O CAMPEONATO DO MUNDO DE “EXTREME RALLIES””. Em Ho-Chi-Minh City será enfim aclamado aquele que ontem jocosamente apodavam de “menino birrento do automobilismo”, o ”arrogante gincanista”, o “craque dos piões de salão”. E eu nas tintas! Amanhã, a mim as primeiras páginas.
E o parvalhão que se julga seguro com a vantagem, não terá o seu tetra! Já teve muita sorte. Daqui a dois dias passará à história “o mais talentoso piloto da sua geração” e serão desvalorizados a sua experiência do risco, a sua metódica preparação das provas, o seu sangue-frio e condução controlada. My ass!...
Fala-se no diabo... Ali vai ele. Já o apanhei, vamos lá a apertar. É agora.
Abrandou. Boa!... o rio, vai ter de atravessar o vau devagar para não forçar a caixa. É o momento. Olha, o nabo encosta-se à direita. Isto não é a toalha ao chão, é o baixar as calças. Quarta a fundo, pela esquerda, adeus ó tanso! Já estou à frente.
... então!... não é o momento para dar de rabo, aguenta-te! Reduz; ... perdi a tracção! Onde está o chão ... saí do trilho?!... estou a ser levado, a água já está a entrar!
Lansdman calls...SOS...estou a ser arrastado pelas águas...merda!...



LEI DE OHM

A resistência de um condutor, é igual à relação entre a diferença de potencial e a intensidade da corrente.
















10 janeiro, 2010

Fractais Lunares




04 janeiro, 2010

Operação Ano Novo


- Boa Tarde. Os documentos por favor...

Era o que podia ser considerada uma operação robusta, com bastantes meios no local, uma discreta via de acesso à auto-estrada, nesse dia 2 de ressaca de passagens de ano.

- Importa-se de desligar a viatura - pedidordenou.

Militar jovem, assertivo e educado, com termos de decisão em mostrar serviço.

- É de renting... - passando-lhe para a mão carta, seguro e todos os papeis justificativos, do stand, da alfândega, da locadora, que sei eu!

Vacilou, pestanejou três vezes e readquiriu o controlo.

- Livrete e registo de propriedade?!

- É novo. De Novembro. Por isso é que tenho essas declarações todas...

Aí, olhou para a papelada, para trás em direcção ao jipe, executou uns malabarismos com os documentos e, de novo, aparentou indecisão. Devolveu-me tudo, a monte.

- Importa-se de sair e abrir a mala, para verificar se tem o coelho.

Toda a trama congelou então durante um incomodativo segundo. Arregalei os olhos.

- O coelho?! - quis eu confirmar.

Ele teve um arroubo de rubor e focou o infinito. No banco de trás, a Marta soltou uma gargalhada tipo sopapo. Ele abriu e fechou a boca, tiltou com os globos oculares e conteve a tempo e com muito custo um riso inoportuno.

- Não vale a pena. De certeza que tem tudo em ordem. Obrigado e boa viagem.

- Obrigado, sr. guarda. Bom Ano!

Verificou o tráfego e assegurou o nosso acesso à estrada com a correspondente saudação. Foi uma sorte não ter reparado que a minha carta já perdeu a validade.


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