30 setembro, 2010

Santuário


Erguem-se desde o mar perante os nossos olhos, quais presas e mandíbula de uma submersa e imensa criatura, um gigante que aprisiona nas suas entranhas cemitérios com os despojos de antigos e incautos navios.

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Fomos, ao longo de todo o caminho, sendo fustigados pelos salpicos e pelo vento, que nos afagaram a pele com a essência que tonifica os profanadores e os ímpios, aqueles, que quando se aproximam, as aves marinhas vigilantes ostensivamente mantêm em respeito.
Por fim, diluídos no mergulho ao longo do relevo das suas paredes abruptas, guiados por gorgónias azuis e por cintilantes nudibrânqueos, intrusos sob uma sobrenatural serenidade, acercámo-nos da vasta gruta que, de lado a lado, trespassa a pedra imponente.
Desvendavam-se então os segredos de todo aquele mundo... ; mas não temam, que apenas os mais prosaicos!
Aos verdadeiros mistérios dos Farilhões apenas acederão os que detêm as chaves dos códices de Neptuno...





22 setembro, 2010

Setembro





Esvai-se, sedutor, rumo ao desabrochar do equinócio com um espreguiçar indolente e frívolo, embora ainda reverberante das frenéticas titilações do estio.

Há-de ainda rejubilar, esplêndido, com dardejantes e coloridos fulgores que os seres, as coisas e a paisagem absorverão sôfregamente, numa derradeira ânsia vital, intuindo a próxima - aquela tão baça e húmida - estação.


Em Setembro, algures no seu percurso, o futuro fica em suspenso e dissolve-se. É já e só, longe, muito depois de amanhã.








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