28 maio, 2011

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Saudade é despedirmo-nos de um amigo, ao fim da noite, com a plena noção que amanhã ele poderá já não se lembrar de nós.
Maior saudade é saber, uma semana passada, por ocasião do seu funeral, que a tarde dessa nossa despedida lhe tinha, de uma forma plena, iluminado a alma.


Espera por nós, lá por um destes S. Elói, Bogaraveo...



19 maio, 2011

Distopia






Será que a imagem que temos das realidades que consideramos palpáveis corresponde à representação exacta, concreta, geométrica e metafísica dos universos ou antes, meras projecções aberrantes e distorcidas dos mesmos? (ou será, porventura, exactamente o contrário?)...


Agrada-me profundamente saber que estou num ponto do Universo que necessita ser esticado para o lado de fora, quero dizer : para a minha frente. Se rebentar, é a minha mais profunda aspiração que foi satisfeita!

António Maria Lisboa



11 maio, 2011

Urbanidades (VI)



Rue des Mineurs (Liége)

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04 maio, 2011

Fechar a Porta (e Engolir a Chave)


Chegaram-me, provenientes de diversas fontes e pelas mais variadas vias, opiniões e manifestações de desacordo e mesmo menosprezo para com as minhas recentes intervenções sobre a política do nosso condado (inclusive sob a forma de não publicação de comentários meus num blog).
São geralmente dois os argumentos usados, curiosamente de lados opostos das barricadas da retórica: por um lado, o estafado estribilho “não serve para nada”; do outro, o radicalismo de propostas ousadas, como a da cobrança de fraque.
De uma coisa eu estou certo: as coisas não se alteram só porque escrevemos em blogs, porque esconjuramos a nossa impaciência nas redes sociais ou porque nos indignamos no seio do nosso círculo restrito de influências por causa da marcha desta nossa via crucis.
Há quanto tempo, tantos ilustres e reputados cidadãos têm vindo a apontar soluções e caminhos a seguir? Algum órgão de soberania se dignou ouvi-los ou aplicou alguma das suas receitas?
Para que surjam mudanças, insisto, o povo tem que forçar a barra, invadir as ruas, gritar e eventualmente nalguns casos, arriscar. Ou agora, que estamos subjugados ao garrote de um qualquer triunvirato institucional, passamos a conformar-nos com a nova desculpa, “não podemos fazer nada”?
Em Tunes e no Cairo, saíram à rua. Na Islândia, exemplo para alguns mais inconformados, também. Como antes, tão antes que já poucos recordam (mas tão relevante), na Polónia.
Para mudar, há que sair à rua, apanhar sol e chuva e vento e criteriosa e meticulosamente, apontar aos podres do sistema e torpedeá-los sem cedências e ininterruptamente; até que algo mude, efectivamente.
Alguns acham que esta é uma cruzada romântica. Crêem que as forças cívicas, as entidades financiadoras externas, algumas vozes credíveis dentro dos partidos, a consciencialização do povo, acabarão por levar à mudança; claro que isso é subestimar a dinâmica inercial de todos (e são muitos!) a quem este pântano convém e as fantásticas e oleadas máquinas de propaganda dos partidos “representativos”, últimos guardiões dos interesses instalados, a quem o tempo vai permitindo os adequados ajustes de discurso e atitude.
Por isso, temo seriamente, que com todas estas divagações, jogos de cintura, dispersão de movimentos cívicos e esperança cega no bom senso das elites a que hoje assistimos, tudo continue exactamente na mesma, ressalvando o aspecto cosmético. Em suma, estrume com apresentação nouvelle cuisine! E nós, acomodados, eternamente descontentes e a mandar palpites, reféns de jogos de (i)lógica completamente surreais.

Mas também já não nos espantamos, pois assumimos que todas estas idiossincrasias, dúvidas e angústias estão profundamente interiorizadas no núcleo a-dê-énico da alma portuguesa.
Afinal, o povo nem gosta por aí além de sair à rua.
Aliás, o povo muito poucas vezes se dignou descer à rua. Até mesmo num 25 de Abril qualquer, alguém teve que sair por ele.



(Por exaustão e por não ser charco de minha predilecção, dou por encerrado este ciclo de crónicas endo-socialo-políticas)