A Oratória do Vácuo
Então alguém começou a falar, alguém que eu não conhecia. Primeiro ouvi-o com estranheza e depois com fascínio. Estava a falar sem dizer nada. O seu discurso tinha estrutura, as frases tinham um começo e um fim e seguiam-se umas às outras (...) e aquilo que ele recordava e nos transmitia para reflectirmos parecia ter substância. Mas no fim não resultou em nenhuma tese, nenhuma ideia, nem afirmativa nem crítica. Era o evitar de qualquer compromisso, de qualquer opinião, em relação à qual poderia surgir alguma crítica ou merecer alguma autocrítica. Era uma arte de falar que obedecia a leis próprias e difíceis e que a maior parte das vezes apenas poderia ser lamentávelmente mal acabada, mas que se desenvolvera e se tornara numa arte. Era uma arte absurda.
Bernhard Schlink - O Regresso