07 junho, 2007

Osmoses

Lançámos amarras no solitário e deserto rochedo, descia já o sol ao longe. Em fundo numa mancha indistinta ainda não pintada com as luzes nocturnas, Ibiza, a que nos levara a buscar um pacífico refúgio, pelos excessos cometidos. O ilhéu, pequeno, era um porto natural simpático que nos concedia fácilmente o acesso...nele montámos o churrasco, na sua superfície irregular acomodámos as costas, sobre ele, neste “end of a perfect day”, vimos o rei-sol afogar-se no mar, angústiadamente vermelho, e as estrelas a despontar, a lua (tranquila), crescer e inundar os perfis. Nele alguns se perderam...
Ficámos os dois ainda durante algum tempo a absorver toda aquela serenidade. Cruzámos a sugestão e decididamente corremos de volta para o barco, onde nos equipámos. Quando, após o salto tocámos na água, todos os milimetros da nossa pele se aceleraram de emoção e deixámo-nos afundar, quase imóveis, até ao fundo de areia. Apenas o barulho da nossa respiração se ouvia e olhámo-nos (sorrimo-nos? tocámo-nos?) com aquela cumplicidade gerada pelos momentos inatingíveis. Olhei então na direcção da superfície. O luar refractava-se em milhares de focos suaves que nos faziam brilhar as pupilas. Quando desliguei a lanterna o sublime assombro envolveu-nos... o plâncton, com todas as suas constelações, reverberava à nossa volta embalado pela meiga caricia da luz da lua (agora tão vibrante). A vida, toda, primordial, envolvia-nos de uma forma absoluta. Só nos restava comungá-la...