interlúdio eVIANescente
Faz cinquenta anos nesta vépera de S. João, que este personagem insaciável e solar morreu, atacado por um arranca-corações, numa sala escura dum cinema de Paris (lá p'rós lados da Exopotâmia).
Boris Vian é sem dúvida um dos meus espíritos condutores; inspirador, desencaminhador, sedutor...
E como a ferrugem (ou por outra e única palavra, a preguiça) me tolhe os dedos ou por reconhecer que dificilmente o farei ainda melhor, aqui transcrevo uma anterior homenagem. Por essa alma que me abensombra, por essa fugaz probabilidade, aqui proclamo a minha crença inabalável na Patafísica da Reencarnação:
Cruzámo-nos no limbo.
Quando morreu, em Junho de 59, ia eu no meu terceiro mês de gestação.
De certeza que o ouvi tocar (ou cantar, declamar ou polemizar... de qualquer forma, provocador) lá nessa Internet das almas, labiríntica rede onde vão circulando os que já chegaram e os que ainda não partiram. Gosto de pensar que foi a ele que perguntei a que IP me devia dirigir. Olhou a ficha ao meu aurascoço, viu que era um .pt e indicou-me a porta do router. Recomendou-me que absorvesse alguma energia para ganhar massa pr’à viagem. Deu-me ainda umas dicas para uns bistrots e com uma gargalhada avisou:
- Se quando tiveres que ir, arrancares depressa e bruscamente, irás pela fresca, pela sombra, porque os raios do sol, com a surpresa, não te conseguirão seguir.
Boris (V), alma gémea, engenheiro, boémio, trompetista com a sua própria banda de jazz (eu não sou musico; apenas respiro bebópicamente), grande Sátrapa do Colégio da Patafisica, metafisicomático, tendo documentado o cálculo numérico de Deus, por métodos simples... amante de Paris e dos “caveaux” mágicos onde o ambiente se entranha na pele, escritor de soberbos e inverosímeis romances de amor, de novelas do absurdo real e de livros de cordel negros, poeta de intervenção e cantor pornográfico... Cultivava a liberdade das ideias e da vida.
“Je passe le plus clair de mon temps à l'obscurcir parce que la lumière me gêne. "
Devo ter escutado o seu conselho, pois nasci pr’aí à uma da manhã.
Até fisicamente, dizem, deveríamos ser parecidos...
Só que não morri aos 39....
PS : ... avec un petit colin d'ail à A Espuma dos Dias
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2 Comments:
bons ventos te vejam
:)
Olá Ângela!...
Não podia deixar passar esta!
Admito também, que tenho(um bocadinho) de saudades de deixar esvoaçar algumas ideias...Talvez me dê para voltar. Assim como que assarapantadamente!...
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