30 novembro, 2007

Noite de Santo Elói

Patrono de ourives, metalúrgicos e outros afins na industria transformadora, é celebrado solene e anualmente por confraria com estatutos e objectivos definitivamente epicuro-báquico-hedonistas.
É hoje, 30 de Novembro!
Prepare-se pois o palco em Viseu...

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26 novembro, 2007

Os Meus Favoritos ( XXII ) - Brel (3)

Hiva-Oa © David Clerk

O fado dos seus dias estando irremediávelmente riscado, decide afastar-se do foco das luzes e dedica práticamente todo o seu tempo e energias a velejar. Deixa a Europa a bordo do “L’Askoy” e propõe-se determinadamente a atravessar o maior dos oceanos. Instala-se em Hiva-Oa, nas Ilhas Marquesas e, deixando escorrer os finos grãos do tempo por entre os dedos, entrega-se ao tardio deleite de remotas aventuras e encantos. Compra um avião, um hino a uma amizade, o”Jojo”, e entusiasmado, transforma-o no aero-táxi-correio-ambulância dos habitantes do arquipélago.
Morre em Paris a 9 de Outubro de 1978, mas é o remoto paraíso dos seus derradeiros prazeres que o acolhe, com a mesma devoção com que o faz a outro dos seus celebrados amantes, Gauguin, para sempre embalados pelos sussurros de azuis e salgados mares, assombrados por histórias de encantados marinheiros.




23 novembro, 2007

Os Meus Favoritos ( XXII ) - Brel (2)


Avec la mer du Nord pour dernier terrain vague
Et des vagues de dunes pour arrêter les vagues
Et de vagues rochers que les marées dépassent
Et qui ont à jamais le coeur à marée basse
Avec infiniment de brumes à venir
Avec le vent de l'est écoutez-le tenir
Le plat pays qui est le mien

Avec des cathédrales pour uniques montagnes
Et de noirs clochers comme mâts de cocagne
Où des diables en pierre décrochent les nuages
Avec le fil des jours pour unique voyage
Et des chemins de pluies pour unique bonsoir
Avec le vent d'ouest écoutez-le vouloir
Le plat pays qui est le mien

Avec un ciel si bas qu'un canal s'est perdu
Avec un ciel si bas qu'il fait l'humilité
Avec un ciel si gris qu'un canal s'est pendu
Avec un ciel si gris qu'il faut lui pardonner
Avec le vent du nord qui vient s'écarteler
Avec le vent du nord écoutez-le craquer
Le plat pays qui est le mien

Avec de l'Italie qui descendrait l'Escaut
Avec Frida la blonde quand elle devient Margot
Quand les fils de novembre nous reviennent en mai
Quand la plaine est fumante et tremble sous juillet
Quand le vent est au rire quand le vent est au blé
Quand le vent est au sud écoutez-le chanter
Le plat pays qui est le mien.


Le Plat Pays


(En) chanteur d'histoires de paysages et gens en relief, charmeur de vents, conscience du chagrin des belges


... com vénia solene ao Hugo Claus.


19 novembro, 2007

Os Meus Favoritos ( XXII ) - Brel (1)



Chez Ces Gens Lá


O performer inquieto...

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16 novembro, 2007

EHECATL

©Kim Roberts Meacham
Deus do vento, na mitologia azteca. Apaixonado por uma jovem mortal, Mayahuel, rodeou-a com o seu amplo abraço, deitou-a, segurando-a contra o solo e a ela se uniu. Fatídicamente, o divino acto foi de uma intensidade que Mayahuel não aguentou, pelo que sucumbiu ao supremo amplexo. Ehecatl enterrou-a e no sagrado local nasceu uma árvore de longos ramos esticados como braços suplicantes.
Desde então, Ehecatl percorre a terra em demanda de uma jovem tão bela como Mayahuel. Os homens ouvem-no cantar, como ao vento sussurante, buscando conforto nas sublimes copas de serenas árvores, embalando-as.


Ehecatl – o primeiro avião militar integralmente concebido e fabricado por mexicanos, em toda a história aeronáutica do país. A aeronave, do tipo não tripulado, foi apresentada no Salão Aeronautico e Espacial de Le Bourget, em 19 de Junho de 2007.

12 novembro, 2007

Porque Não Te Calas !?...

... - invectivou Juan Carlos, rei de Espanha, o realista mágico Hugo Chavez. Tivesse o nosso Aníbal Sócrates tido de tomar tal atitude e as capas na comunicação social dedicada à Cimeira Ibero-Americana relatariam:

- Ex. mº Senhor Presidente, por que não se cala V.Exª !?

Isto, considerando que seria mantido o tom imperativo da sentença, embora combinando de uma forma que só os portugueses o conseguem, o tratamento distinto e distante na segunda pessoa do plural com o hierárquicamente estratificado título, refinando o todo com a excelência, a eminência e o mérito da distinção. Pior seria, caso o comentário incluisse o indecoroso e saloio “você”, forma artificial de aproximação dos níveis ou de demonstração de possível mas respeitosa cumplicidade entre os interlocutores.

Os dinamarqueses, não há muito tempo, decidiram por referendo nacional que passariam a “tratar-se por tu”, os espanhois já o fazem de um modo de tal forma espontâneo que parece que andaram juntos, todos, na tropa e os ingleses conseguem manter as aparências com a elegância do seu diplomático e ambíguo you. E até mesmo os franceses já dão sinais de mudança nesta temática.

Quando decidiremos então nós, diligentes personagens nesta periférica república, dar os passos necessários para encurtar as distâncias que nos separam nas cenas que temos de partilhar? Quando abandonaremos o salazarérrimo “Ex.mos Senhores” e os formólicos ”Sr. Doutor” ? Quando meteremos nas nossas (de)forma(ta)das cabeças que qualquer estatuto, seja social, profissional, hierárquico ou pato-bravamente económico, é de facto uma responsabilidade e não uma cátedra que mereça especial deferência?

Como a quem pode não convém, há que persistir na promoção de uma comunicação e relacionamento naturais entre nós, cabe-me a mim e a ti, subir os degraus, dois a dois, nessa direcção. E aqui fica um repto ( que por restrita divulgação, aliás, te estimulo a apregoar): a ti, jornalista de uma qualquer televisão nacional, tal te garantirá tempo de antena por várias semanas e merecido reconhecimento de muitos compatriotas por longos anos, para, quando entrevistares o Santana, o Louçã (este é mais fácil!...), o Jardim, o Belmiro ou o Ministro dos Assuntos Inócuos, lhes perguntes, com modos absolutamente correctos e educados:

- O que pensas das conclusões da Cimeira Ibero-Americana?



09 novembro, 2007

Le Risque et le Doute

Tu ne le sens pas, dans ton coeur... ?

…toujours une faible lumière d’espoir, tant que c’est le cœur.
Serait-ce la tête, sombre demeure de la raison et de la toute puissante morale et il n’y aurait que l’épaisseur du noir, (…non, pas celui du fond de l’océan, qui lui est lumineux…) ; le vrai noir.
Je t’imagine, envoutée par ton doute, en remouant la superbe citation d’une de mes âmes jumelles : « Les gens malheureux tuent ce qu'ils aiment parce qu'ils n'ont que ça sous la main.»…

É apenas isso... Esse tipo de dúvida é corrosivo e o risco, vale por isso mesmo: ser um risco, com as suas limitações de tempo e forma.

Tenho por assegurado, que tudo o que a nossa cabeça refreia como um todo, cavalga desenfreadamente, nas zonas mais livres do nosso espírito. Assim sendo, o coração oscila entre a certeza do risco de um fugaz desvario espiralado e libertário que o instinto comanda e a fatalidade da mortificação dos sentidos e do espírito.

Bem vistas as coisas, têm necessáriamente de se intersectar algures, a emoção, a razão, a líbido e o místico. O exclusivo e incerto ponto G da nossa laboriosa e intrincada mente...


01 novembro, 2007

Os Registos Improváveis (VI)

A notável colecção “Os Registos Improváveis” associa-se hoje à efeméride que celebra os 84 anos do nascimento do célebre soprano Victoria de Los Angeles, trazendo aos seus fiéis (e esporádicos) leitores/ouvintes uma rara e extraordinária gravação. Assim, numa inversão de papeis desarmante, ouvir-se-á a inesquecível cantora lírica ao piano, acompanhando um dos seus mais dilectos e ilustres partenaires, um virtuoso deste instrumento, o grande Gerald Moore, desta (única) vez com a responsabilidade da interpretação vocal, num improviso gravado em Londres em 1951. Antológico momento, aquele em que ele grita à diva para acelerar.


Dichterliebe Op.48 - Ich grolle nicht (Robert Schumann)

Victoria de los Angeles (piano)
Gerald Moore (voz - barítono? tenor ?)


Acessóriamente, qualquer diário, semanário ou jornal desportivo que almeje o previlégio de distribuir as suas folhas impressas como suplemento generalista a este esplendoroso arquivo de jóias culturais e clássicos das raridades, solicita-se contactem a redacção do “Cabo dos Ventos”, hoje igualmente em festa.



PS : Celebração incantatória também, sempre, neste dia de todos os mortos, para um encantamento e uma assombração muito pessoais : "Debaixo do Vulcão" de Malcolm Lowry