29 maio, 2007

A Visita de Estado

O foto-energo-génico governante mantinha uma passada estugada e regular. O dia estava bonito, embora frio, e acompanhavam-no neste seu jogging matinal, dispersos pelo percurso, meia dúzia de possantes atletas cuja postura e enquadramento eram tão discretos e naturais como um chocalho num porco. O saudável ministro comprazia-se genuínamente; começava a ser reconhecido entre os seus pares por esta sua notável rotina de manutenção e actividade física. Os seus traços reflectiam satisfação ao recordar-se da véspera, quando o seu austero anfitrião lhe dissera ter providenciado no sentido de disponibilizar a Grande Praça para a sua “corridinha”, para ele, que só estava a contar com o circuito do Parque do Enorme Escritor, ... que não!... que não!... será na Grande Praça!!...e ali ia ele, correndo naquele amplo espaço deserto, desimpedido especificamente para si! Como um estadista! Acelerou um pouco mais ao sentir-se insuflado com um alento imperial.
Ao fundo, distinguia já a informe massa de jornalistas que o esperavam para a inevitável reportagem....ppfff!...até já intuía o que lhe iam perguntar: como se sente esta manhã?, qual a sensação de correr na Grande Praça? O que espera da Greve Mínima e Parcial prevista para amanhã? Também já tinha as devidas respostas preparadas.
A comunicação social iniciou a agitação e alguns operadores de câmara posicionavam-se para registar o momento. Vamos lá então à pose de dinamismo inquebrável, lúcida tenacidade e intransigência de vontade, para a chegada à meta. Sorriu com jovialidade sensual.
Foi então que a merda do pombo o atingiu. Em cheio, entre os olhos.

25 maio, 2007

Em Busca da Imaginação

"Numa tarde pachorrenta, estando eu entregue ao tédio, a minha imaginação, aparentemente aborrecida por ser ignorada, tirou férias – e nunca mais voltou. Tinha perdido aquilo a que o poeta Wordsworth chamava ”o olho interior”. Ou perdi, ou ficou esquecido algures no mundo natural. Tentei agarrar-me a uns fiapos de memória, mas não eram suficientes. A memória é um chapéu velho; a imaginação é um par de sapatos novos. Tendo perdido os sapatos novos, que resta fazer se não partir à sua procura?"

J. Patick Lewis / Roberto Innocenti © O Ultimo Hotel

Um livrinho luminoso...

21 maio, 2007

Energias Esverdeadas

Temos andado a ser tranquilizados com o novo ovo de Colombo energético que vai contribuir para o continuado desafogo e conforto deste nosso insaciável ocidente, o biocombustivel.
É um facto que tudo o que tem sido dito é promissoramente verdadeiro - aligeira os encargos e dependência dos seus parentes fósseis, mais amigo do ambiente que estes, melhor eco-eficiência e via priveligiada para a reciclagem de resíduos industriais e domésticos, vide óleos usados – e tão elementarmente simples - qualquer um o pode fazer no seu quintal das traseiras - , mas também costumo ser acometido por uma certa azia quando me querem fazer tragar soluções perfeitas, nem que seja em prol do (nosso) ambiente (confirmar este meu mau feitio nas Eologias).
Primeiro, não é barato; afinal um litro de biodiesel é mais caro que um litro de gasóleo de marca registada. Mais curiosa é a sua componente sócio-desestabilisadora sobretudo quando o tema é devidamente polvilhado com demagogia política.
Assim, o objectivo passa por, no que respeita ao gasóleo e a curto prazo, a integração de uma minúscula parcela de 5% de biocoiso, em todo o produto despachado para o mercado. A realidade sendo mais implacável, de um ponto de vista de matéria prima, para atingir esta produção seria necessário plantar todo o Alentejo com soja, milho ou algo que o valha. Como a viabilidade desta estratégia (afinal sempre é possível delinear mais uma estratégia para o Alentejo!) , que bem vistas as coisas pode ser extrapolada aos nossos parceiros europeus e americanos, é no mínimo virtual, aí vamos nós em romagens ao terceiro mundo explicar-lhes a excepcional oportunidade de que dispõem para equilibrar as suas raquíticas finanças, caso se decidam a produzir e exportar o milho e a soja, sendo a isso inclusivamente persuadidos com um complemento de ajudas e fundos muito oportunos.
E o mercado evoluirá nos seus meandros; e essas “espécies agrícolas” que servem de base à alimentação dos modestos indígenas verão os seus preços disparar, em plena confirmação de bem comprovadas teorias económicas, com base na oferta e na procura.
A esse desafio responderão dinâmicos empreendedores que promoverão a massificação do cultivo, aproveitando inclusivé o extraordinário dois em um que consiste em vender exóticas madeiras de equatoriais florestas e plantar a perder de vista, vastos campos deste novo ouro verde.
E aos longíquos povos, tão simpáticos ou coitadinhos (dependendo do sítio) nas fotografias e reportagens da nossa vigilante imprensa, será muito mais difícil pagar o sustento da família, pois o seu milho valerá muito mais se alimentar os nossos indispensáveis automóveis.
E os simpáticos/coitadinhos serão levados a pensar : se eles vivem melhor e até dão o milho a comer aos carros, porque não havemos nós também de ir até lá?


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Ainda tenho esperanças de ver com estes olhos genuinamente biodegradáveis o grande milagre energético do Ocidente. Consigo até muito bem imaginar o Bionuclear, pelo qual excrementos de coelhos irradiados serão a fonte das micro pilhas atómicas que inesgotávelmente farão girar o mundo.

18 maio, 2007

Glimpse (IV)… of Seduction


The Encounter


All the while they were talking the new morality
Her eyes explored me.
And when I rose to go
Her fingers were like the tissue
Of a Japanese paper napkin.


Ezra Pound

13 maio, 2007

Glimpse (III)…of a Passionate Drift


© Francesca Woodman



supposing i dreamed this)


supposing i dreamed this)
only imagine, when day has thrilled
you are a house around which
i am a wind -

your walls will not reckon how
strangely my life is curved
since the best he can do
is to peer through windows, unobserved

- listen, for (out of all
things) dream is noone's fool;
if this wind who i am prowls
carefully around this house of you

love being such, or such,
the normal corners of your heart
will never guess how much
my wonderful jealousy is dark

if light should flower:
or laughing sparkle from
the shut house (around and around
which a poor wind will roam


e.e. cummings



© Francesca Woodman



08 maio, 2007

Glimpse (II)… of Sorrow


Clown in the Moon


© Maia Stefana Oprea
My tears are like the quiet drift
Of petals from some magic rose;
And all my grief flows from the rift
Of unremembered skies and snows.

I think, that if I touched the earth,
It would crumble;
It is so sad and beautiful,
So tremulously like a dream.

Dylan Thomas

07 maio, 2007

Oh! (pérette)

À l'Ópéra de Paris, com lotação esgotada para os próximos anos:


" Mosar : Kozy Fan Tute "

.

05 maio, 2007

Glimpse (I)… of Serenity


And the days are not full enough


And the days are not full enough
And the nights are not full enough
And life slips by, like a field mouse
Not shaking the grass

Ezra Pound